Medindo um quarteirão, de cruzamento a cruzamento |
O Google Earth é uma ferramenta muito útil, quando se quer saber, — por exemplo, — “quantas pessoas cabem na Avenida Paulista”.
A resposta depende de 3 fatores:
- Quantos metros quadrados tem a Avenida?
- Quantas pessoas por metro quadrado?
- Fotos (com hora!) de todos os trechos, na vertical
Quantos metros quadrados?
O mais simples é medir a extensão de cada quarteirão, de um cruzamento a outro. Basta criar um “caminho”, clicando nos 2 pontos, e em seguida procurar a sua extensão na aba “Medidas”.
Tentando medir a largura útil em um ponto da Avenida Paulista |
Medir a largura útil pode dar um pouco mais de trabalho, pois os limites ao pedestre não são tão óbvios.
Em dois locais medidos, a distância de um prédio a outro, dos dois lados da via, fica em torno de 42 metros.
Tentando medir o espaço livre em outro ponto da Av. Paulista |
É claro que em alguns pontos essa largura útil pode ser maior, — e quando a multidão é grande, pode se expandir para algumas ruas transversais, — porém existem canteiros, bancas de revistas, entradas do Metrô etc. que deveriam ser subtraídos ao espaço livre.
Cálculo da área total da Avenida Paulista |
Considerando, portanto, uma largura padrão de 42 metros úteis, — e deixando de lado variações para mais ou para menos, — é fácil calcular a área em metros quadrados.
É o que vê na última coluna da tabela, com a soma na última linha: — cerca de 111.000 m².
Preferi fazer isso, trecho por trecho, pois é preciso avaliar quais deles estiveram efetivamente ocupados, numa ou noutra manifestação.
Omitidos os primeiros 2 quarteirões a NW, onde boa parte do espaço corresponde a um tunel |
Uma dificuldade adicional refere-se aos primeiros 2 quarteirões, onde a via se divide com o Túnel José Roberto Fanganiello Melhem.
Disponibilidade de espaço nos quarteirões da extremidade NW da Avenida Paulista |
Nesse trecho compartilhado com o túnel, pode ser mais difícil verificar o espaço realmente ocupado.
Entrada do Túnel José Roberto Fanganiello Melhem, extremidade NW da Avenida Paulista |
Uma rara visão desse trecho, — com data e horário bem definidos, — viria a se tornar conhecida na noite do Dom., 4 Set. 2016, quando a repórter fotográfica Marlene Bergamo, da Folha, postou uma foto da manifestação na entrada do túnel, em seu perfil no Facebook.
O momento exato em que a imagem entrou na rede |
A imagem foi replicada por inúmeras “Páginas” e “Perfis” no Facebook, nas 24 horas subsequentes, — e a citação dos créditos ajudou a localizar a postagem original, com a hora quase exata.
Quantas pessoas por metro quadrado?
Espaçamento mais visível nos cantos onde a vista incide mais próximo da vertical |
Quanto à taxa de ocupação, teria de ser conferida pelo máximo de fotos, ao nível do solo ou bem próximo.
E nisso influi muito o ângulo da imagem, — que costuma revelar melhor a realidade nos cantos onde incide mais verticalmente, e menos nos cantos onde incide com maior inclinação, — pois aí, os corpos ocultam o espaço entre as pessoas.
Mesmo nas fotos mais “verticais”, o espaçamento é mais visível na parte inferior, e escamoteado na parte de cima |
De uma janela elevada, o espaçamento é mais visível na parte inferior, e escamoteado na parte de cima |
A taxa de 4 pessoas por metro quadrado, — que daria, no máximo, 444 mil pessoas, — é coisa de elevador lotado. As pessoas mal poderiam mexer um braço.
A taxa de 1 pessoa por metro quadrado é mais razoável, — e daria no máximo 111 mil pessoas, — se a Avenida Paulista fosse ocupada de uma ponta a outra, sempre com essa densidade.
Porém, o mais comum, nas fotos de inúmeros eventos já registrados na Paulista, é de pessoas bastante espaçadas, — bem menos do que 1 pessoa por 4 metros quadrados (2 x 2 m), — o que nos traz para uma realidade de, no máximo, 28 mil pessoas.
Cobertura total
A imagem do dia 15 Mai. 2019 é bastante “vertical”, mas cobre apenas um trecho |
Avaliações apresentadas pelos poderes públicos repousam sobre uma fábula tácita, — a de que a PM se dedicaria a um levantamento do perímetro das áreas ocupadas, bem como da densidade em cada uma, em seguida comunicaria todos os detalhes à base de operações, que faria cálculos sobre o mapa, — e o comando, como leal escoteiro, divulgaria o resultado, sem cair em tentações, nem ceder a injunções.
Para mostrar isenção, já foi muito comum os meios de comunicação apresentarem 2 números, — o das autoridades e o dos organizadores do evento, — para que o leitor escolha um deles, ou tire uma média, como preferir.
Nada disso parece 100% confiável para todas as partes, — uma vez que é flagrante a tendência da tropa em proteger, tirar selfies, inflar algumas manifestações; e atacar outras com selvageria, sob qualquer pretexto, inclusive subestimando o número de manifestantes. — Nessa “pechincha” pelo tamanho da multidão, a outra parte seria ingênua, se não forçasse os números na mesma proporção, em sentido contrário.
Em uma época de imensas facilidades de obtenção e transmissão instantânea de imagens, — internet, GPS, drones, câmeras digitais, celulares 4G, redes sociais, — era de se esperar que fosse muito fácil avaliar multidões ao ar livre. E não só uma vez, como várias vezes, p.ex.: de hora em hora.
Isso está totalmente dentro das possibilidades dos principais jornais e redes de TV, — mas o que se vê são poucas imagens, como que escolhidas a dedo para “causar” uma ou outra impressão. — Nunca um conjunto completo, consistente, capaz de permitir uma avaliação objetiva.
O resultado é fragmentário. — Às vezes, uma multidão compacta, mas em um trecho pequeno. — Outras vezes, trechos enormes de multidão, sem possibilidade de exame em detalhes, como onde começa, onde termina, e quais as densidades.
E raramente com a hora de cada imagem, — o que dificulta compor um quadro consistente, mesmo quando se reúnem muitas imagens, de várias fontes dispersas.
Nesse aspecto, a Avenida Paulista é difícil: — Uma tripa quilométrica entre 2 paredões que impedem imagens laterais, — e do alto dos prédios só se podem obter imagens acanhadas, em perspectiva, que ocultam os detalhes.
Se uma ou várias organizações resolvessem criar um “Instituto Verificador de Multidões”, teriam de empregar drones para fotografar toda a área da Avenida Paulista na vertical, de hora em hora, — com registro das horas nas próprias imagens, — e disponibilizar o conjunto completo, para exame público.
Nada disso parece 100% confiável para todas as partes, — uma vez que é flagrante a tendência da tropa em proteger, tirar selfies, inflar algumas manifestações; e atacar outras com selvageria, sob qualquer pretexto, inclusive subestimando o número de manifestantes. — Nessa “pechincha” pelo tamanho da multidão, a outra parte seria ingênua, se não forçasse os números na mesma proporção, em sentido contrário.
Acima - Vídeo divulgado por volta das 15:00 do dia 26 Mai. 2019. Há informações de que ao anoitecer o número de pessoas teria aumentado bastante, — mas faltam imagens de todos os trechos.
Em uma época de imensas facilidades de obtenção e transmissão instantânea de imagens, — internet, GPS, drones, câmeras digitais, celulares 4G, redes sociais, — era de se esperar que fosse muito fácil avaliar multidões ao ar livre. E não só uma vez, como várias vezes, p.ex.: de hora em hora.
Isso está totalmente dentro das possibilidades dos principais jornais e redes de TV, — mas o que se vê são poucas imagens, como que escolhidas a dedo para “causar” uma ou outra impressão. — Nunca um conjunto completo, consistente, capaz de permitir uma avaliação objetiva.
O resultado é fragmentário. — Às vezes, uma multidão compacta, mas em um trecho pequeno. — Outras vezes, trechos enormes de multidão, sem possibilidade de exame em detalhes, como onde começa, onde termina, e quais as densidades.
E raramente com a hora de cada imagem, — o que dificulta compor um quadro consistente, mesmo quando se reúnem muitas imagens, de várias fontes dispersas.
Nesse aspecto, a Avenida Paulista é difícil: — Uma tripa quilométrica entre 2 paredões que impedem imagens laterais, — e do alto dos prédios só se podem obter imagens acanhadas, em perspectiva, que ocultam os detalhes.
Se uma ou várias organizações resolvessem criar um “Instituto Verificador de Multidões”, teriam de empregar drones para fotografar toda a área da Avenida Paulista na vertical, de hora em hora, — com registro das horas nas próprias imagens, — e disponibilizar o conjunto completo, para exame público.
Seria complexo e caro, — fora do alcance da “mídia alternativa”, da maioria dos sindicatos dos trabalhadores, isoladamente, ou dos estudantes.
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