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quinta-feira, 17 de julho de 2014

O apagão do Facebook não será noticiado

Brasileiros afetados pelo apagão do Facebook no Brasil, em Tókio, na Cidade do México, no Peru...

Uma brincadeira cruel, mais velha que o neoliberalismo, era perguntar a um colega em véspera de sair de férias:

— E se o patrão descobrir que você não faz falta?

No planeta hispânico
Não sei por que, lembrei disso, ao procurar na internet notícias sobre o apagão do Facebook às 21:00 (GMT-03:00) da última Terça-feira, 15 Jul. 2014 (ou dia 16, na Ásia e Extremo Oriente).

Quase não encontro notícia, análise, informações.

No Extremo Oriente
Em tempo: — Não sou “do ramo”, nem tenho ideia de quais são os sites especializados onde, — quero crer, — o evento decerto foi noticiado e analisado.

Minha primeira pergunta, cá com meus botões, é: — Será que não fez falta?

No próprio Facebook, no dia seguinte, — e hoje até agora, — não vi ninguém comentar nada.

Reclame de uma rede social, na outra, e leve uma pedrada grátis

Na hora, vi gente no Twitter criticando quem falava do apagão do Facebook, — como se fossem “outra turma”, tipo, “agora vocês vêm reclamar aqui”. — E também vi pessoas dizendo que o importante era WhatsApp, Instagram e Twitter não caírem. Tradução: muita gente não estava nem aí para o problema no Facebook.

Hipótese: — Será que o Facebook já se tornou tão substituível, para a maioria dos usuários brasileiros?

Tipo, “falhou, vou pra outra”?

Não sei que língua é essa. Só sei que no Brasil estava exatamente assim: entrava, mas não funfava.

Bom, eu mesmo, quando vi a página demorando a carregar, simplesmente prossegui com outras coisas, e voltei cerca de uma hora depois. Às vezes passo o dia inteiro longe do Facebook, para poder me concentrar em alguma tarefa. Esse tipo de apagão é muito produtivo.

Em algum lugar no planeta hispânico.
Mas, foi assim tão irrelevante, para o chamado “noticiário” — supostamente atento a tudo que afeta seus leitores? Se as agências internacionais distribuíssem uma curiosidade inútil sobre a baleia azul do deserto do Saara, talvez os jornais locais dessem com destaque.

Uma busca por “brasil maior usuario facebook” apresenta, de imediato, dúzias de “notícias” — como as de um ano atrás (30 Jul. 2013), de que o Brasil já tinha 76 milhões de usuários registrados no Facebook. Ou as notícias de dois meses antes (Mai. 2013), de que o Brasil já era o segundo maior usuário do Facebook.

Abundam notícias do apagão anterior do Facebook, publicadas no período de 19 a 22 Jun. 2014. Ocorreu de madrugada, tipo 4h55, a maioria dos brasileiros nem percebeu, — mas a imprensa mundial noticiou, a Forbes estimou prejuízos estrondosos para milhares de empresas, — e foi manchete na mídia brasileira.

O feed do Facebook em PCs no Brasil: entrava, mas não funfava.
Agora, faça a mesma pesquisa por “apagão Facebook”, para notícias publicadas de 15 a 17 do corrente mês de Julho de 2014, e a coisa muda.

Hipótese: — A mídia brasileira só dá a notícia, quando a notícia já vem pronta, lá de fora.

Na Tailândia, creio eu.
Uma busca mais específica, por “facebook 190 api_error”, mostra milhares de resultados para o dia 15 Jul. 2014, — com enorme proporção de fóruns de ajuda. A resposta mais comum: — “Relaxa, não é falha na sua máquina, nem hacker, é geral, do próprio FB”.

Hipótese: — O que de fato preocupa os usuários, nessa hora, é o medo de ter sido hackeado (“raquiado”), invadido, infectado, contaminado. — Fora disso, temos boas opções. Tipo, Facebook não é o único.

Pedidos de ajuda por toda parte. Acalmando o pânico: “Fica tranquilo”.

Vejamos o que pude encontrar no “noticiário”, propriamente dito, sem gastar mais do que algumas horas tentando.

Info Exame: — “instabilidade de acesso para alguns usuários”.
Facebook não disse nada, então não há novidades.

Info Exame (Abril) apresenta uma notinha burocrática, datada de 16/07/2014 09h41. Segundo o título da notinha, o Facebook ficou “fora do ar para alguns usuários”. Um atendente de telemarketing não faria melhor. A “instabilidade” teria ocorrido, supostamente, “por volta das 23h”. Mas, como o próprio Facebook “não divulgou a causa do problema”, Info Exame também não foi além: — “Não há novidades divulgadas pela empresa em seus perfis oficiais no Twitter, Facebook ou em seu blog”. Info Exame não “sabe”, sequer, se o problema se limitou ao Brasil ou se foi mais amplo.

Hipótese: — Se o Facebook publicasse qualquer explicação ou pedido de desculpas, o apagão seria manchete. Fazendo-se de morto, fica o dito pelo não dito. Falta verba, falta competência para ir à luta, pesquisar e registrar um fato relevante.

Nada na Folha Tec. (Nem na Folha como um todo).

No site da Folha de S. Paulo, os 25 primeiros resultados da busca por “facebook”, hoje (17/07/14 14:11:26), cobrem desde o dia 14, véspera do apagão do Facebook. Tem de tudo um pouco, — artistas, fofocas, futebol etc., — menos o apagão do Facebook.

Ironia: — No dia 15, Manual do Usuário comenta o “Fim do caderno Tec, da Folha”, anunciado no dia 11, para 21 Jul. 2014. Rodrigo Ghedin resume os comentários que rolam na web: — “já tinha ido e esquecera de cair”.

Uma pesquisa por “facebook” no Folha Tec, até o meio-dia de 17 Julho também não indicava nenhuma notícia do apagão do Facebook dois dias antes. A notícia mais recente, do dia 15, era espetacular. Dizia que Microsoft “deve” ultrapassar Yahoo, tornando-se a “terceira maior” do mercado publicitário global. A disputa, para quem curte detalhes, é de 2,54% versus 2,52%. (Google tem 31,54%, e o Facebook 7,8%). A notícia anterior, do dia 14, “requentava” o fato de que, desde 2012, o usuário tem a opção de baixar seus dados do Facebook.

O Folha Tec encerra suas atividades porque, — segundo a própria Folha, — não conseguia mais captar anúncios, apesar de a tecnologia andar cada vez mais trepidante nesse mundo.

Pedidos de ajuda em foruns do outro lado do planeta.

De relevante, encontrei duas notícias n’A Tribuna, de Santos, SP:

A nota “Facebook enfrenta apagão e usuários só conseguem usar chat” (15 Jul. 2014 23h19, atualizado às 07h26) registra que a falha impedia a visualização do feed de notícias do Facebook (o que era verdade para usuários de computador). “Segundo os usuários”, a falha teria começado por volta das 22h, e por volta das 23h30 a situação voltou ao normal.

Já a notícia “Após apagão no Facebook, especialista alerta: – Estamos dependentes do ambiente on-line” (16 Jul. 2014 18h23) observa que o Facebook se tornou ferramenta essencial, não só para as pessoas, como para as empresas. Corrige o início do apagão para as 21h; e registra o logoff dos usuários de smartphone. “Procurada durante todo o dia, a assessoria de imprensa do Facebook não divulgou a causa do problema”.

Humor Engraçado: a única postagem noticiando o apagão do Facebook, logo em seguida.
E não é piada.

Enfim, publicado “no calor dos acontecimentos”, — além d’A Tribuna, — só encontrei um post do Humor Engraçado. Não tem data, mas fala no “presente”, em pleno retorno gradual, seguro e lento do Facebook. O Google data a postagem do dia 16. Provavelmente, logo após a meia-noite do dia 15.

Não “vi” o apagão do Facebook começar. Tentei entrar mais tarde, talvez lá pelas 22h, mas, após uns 30 segundos sem carregar o feed, fechei a janela, e continuei fazendo outras coisas. Bem mais tarde, quando tentei de novo, percebi que se tratava de um problema duradouro. Entrei no Twitter e pesquisei “Facebook”. Havia uma avalanche de mensagens, de todas as partes do mundo: México, Chile, Brasil, Ásia, Extremo Oriente. Alguns afirmavam que o problema afetava o mundo inteiro, mas sem links.

O pico de usuários registrando falhas do Facebook no site “Caiu Tudo”, brasileiro.

Um dos poucos links que rolavam, era o do “Caiu Tudo”, que registra falhas apontadas pelos usuários dos mais diversos serviços, inclusive o Facebook. O fato de, até então, desconhecer a existência deste site diz, no mínimo, que nem todo mundo o conhece ou vai lá registrar falhas. Além disso, é um site brasileiro, em português. Não consigo imaginar um chinês, um tailandês ou um indu, por exemplo, vindo a um site em PT-BR para registrar falhas do Facebook.

De fato, o mapa dinâmico das falhas registradas concentra-se no Sudeste do Brasil, com focos isolados em locais onde pode-se presumir que também haja um bom número de brasileiros — a cidade do México e Tóquio, por exemplo.

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Ferramentas &tc.


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