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sábado, 5 de novembro de 2022

Quantas pessoas cabem na Esplanada dos Ministérios?

Esplanada e suas pistas norte (N1) e sul (S1), da L2 à Alameda
(2004, ainda sem o Museu e a Biblioteca Nacional, junto à via S1)

Cerca de 200 mil pessoas teriam participado da 1ª posse de Lula, em 2003, segundo noticiaram, então, a revista Época (grupo Globo) e o jornal O Estado de S. Paulo, atribuindo esse número à PM-DF, que há décadas realiza a avaliação “oficial” de multidões em Brasília. — A Folha de S. Paulo atribuiu à PM-DF uma avaliação de 150 mil pessoas — e O Globo atribuiu à PM-DF uma avaliação de 70 mil pessoas.

Segundo levantamento posterior, da plataforma “Aos Fatos”, a PM-DF teria divulgado números progressivos, em 2003: — primeiro, 70 mil — depois, 150 mil — e só a revista Época teria “destoado”.

Porém, segundo o Estadão (2 Jan 2003, pág. H19), a PM-DF teria dado uma explicação, não “cronológica”, mas “qualitativa”: — “mais de 200 mil” pessoas compareceram, mas só 70 mil “participaram mais diretamente da festa” — seja lá o que isto pretenda significar.

Apenas 3 semanas depois, a Folha de S. Paulo encomendou uma revisão com base em fotos aéreas selecionadas — e reduziu seu número para 71 mil pessoas.

Questionada pela plataforma “Aos Fatos”, em 2019, a PM-DF deu 2 repostas diferentes: — Primeiro, que não tinha mais aqueles números de 2003, nem fotos, nem nada. — Depois, voltou atrás e afirmou que o “número oficial” era 70 mil.

Vivia-se, em 2019, uma situação inusitada: — “Decidiu-se” que a PM-DF não avaliaria a multidão presente à posse de Bolsonaro — e o único “número” fornecido foi o do GSI, já sob controle de seus aliados.

Bastou o GSI avaliar “115 mil pessoas” na posse de Bolsonaro, para superar as 71 mil “revisadas” da 1ª posse de Lula — o que levou o assunto para a mitologia.

Na 3ª posse de Lula, em 2023, o site G1 / Globo deu em manchete a presença de “centenas de milhares” — plural que pressupõe, pelo menos, 200 mil — enquanto a BBC optou por cautelosas “dezenas de milhares”; e afirmou que a PM-DF não divulgou números, pois “deixou de fazer esse tipo de estimativa já há alguns anos”.

No dia seguinte, 2 Jan 2023, o site Poder360 publicou sua própria estimativa, de 160 mil pessoas (“150 mil a 170 mil”) — com fotos aéreas, medidas do terreno via GoogleEarth — e frisou que isto supera as “100 mil a 115 mil” estimadas, também pelo Poder360 (e com a mesma metodologia), para o 7 Setembro 2022.

Estas são as únicas avaliações mais ou menos “comparáveis”, e mais ou menos “verificáveis”, que encontrei (até agora): — a da Defesa Civil DF / Folha de S. Paulo para a posse de Lula em 2003 (veja o PDF do jornal impresso, em “Referências”, adiante, pois a matéria online omite gráficos e fotos); — e as do site Poder360 para o 7 Setembro 2022; e para a posse de Lula em 2023.

Essas 3 avaliações seguiram “quase” a mesma metodologia (em 2003 não se verificou a densidade do público ao nível do solo) — por isso são as únicas que podem ser comparadas. — Mesmo assim, convém examiná-las com senso crítico:

2003     1ª posse de Lula      71 mil     Defesa Civil / Folha
2022     Sete de Setembro    ~108 mil     Poder360
2023     3ª posse de Lula    ~160 mil     Poder360

Hoje, as ferramentas para uma verificação estão acessíveis a todos:

  • Vídeos de 2003, 2019 e 2023 oferecem imagens bem documentadas — e fáceis de comparar, já que o cerimonial de posse segue os mesmos passos — cobrindo esses 3 eventos, de minuto a minuto.
  • O GoogleEarth — o GE Web ou o GE Desktop — permite medir as áreas ocupadas, na sequência das imagens.

Feito isso, resta avaliar a densidade da multidão — “quantas pessoas por metro quadrado” — em cada área, e em cada momento.

A avaliação “ao nível do solo” é o ponto mais fraco — subjetivo (pois não se imaginam equipes medindo o chão com trenas, no meio da multidão); portanto, não-verificável. — Só um conjunto completo de fotos 100% verticais, cobrindo todas as áreas, de hora em hora, permitiria a verificação do cálculo por terceiros.

Para não entrar em micro-detalhamentos, considero que 1 pessoa / m² tende mais a superestimar do que a subestimar as multidões dos últimos 20 anos — fartamente documentadas, desde a popularização da internet, das câmeras digitais e, agora, dos drones. — Em espaços tão amplos, por que iriam as pessoas se acotovelar, como se estivessem em um ônibus lotado, ou em um elevador apertado?

O que é a “Esplanada”, para que se possa medir?

Índice

  • Esplanada, Congresso e Três Poderes
  • Outras áreas
  • Acessos à Esplanada
  • Posse presidencial (I) - da Catedral ao Congresso
    • 2003
    • 2019
    • 2023
  • Posse presidencial (II) - gramado do Congresso
    • 2003
    • 2019
    • 2023
  • Posse presidencial (III) - Praça dos Três Poderes
    • 2003
    • 2019
    • 2023
  • Posse presidencial (IV) - gramado da Esplanada
    • 2003
    • 2023
  • A guerra dos números (I)
  • A guerra dos números (II)
  • O tempo não para
  • Referências
    • Vídeos
  • Ferramentas

Esplanada, Congresso e Três Poderes

Largura e extensão do canteiro central da Esplanada dos Ministérios e vias N1 e S1

A área do canteiro central da Esplanada (nº 3 a 6) é de 200.000 m² — o equivalente a 20 hectares — ou 18,5 campos de futebol:

  • 1.000 metros de extensão plana (ininterrupta), da via L2 até a Alameda de acesso ao Congresso Nacional — que é um caso à parte
  • 200 metros de largura do canteiro central — de meio-fio a meio-fio — o que pode ser reduzido por eventuais barreiras

Canteiros centrais da Esplanada, da Rodoviária à Praça dos Três Poderes

Para um cálculo das áreas parciais — numeração inventada por mim:

Canteiro nº 3    100 m × 200 m  =   20.000 m²
Canteiro nº 4    380 m × 200 m  =   76.000 m²
Canteiro nº 5    400 m × 200 m  =   80.000 m²
Canteiro nº 6     75 m × 200 m  =   15.000 m²
    -----  via  L2   -----
Canteiro nº 7     75 m × 200 m  =   15.000 m²
Canteiro nº 8    385 m × 200 m  =   77.000 m²
    ----------------------
Via N1         1.000 m ×  20 m  =   20.000 m²
Via S1         1.000 m ×  20 m  =   20.000 m²

As pistas N1 e S1 têm 20 metros de largura — o que dá 20.000 metros quadrados (cada), só da L2 até a Alameda dos Estados — porém é rara a ocupação simultânea do canteiro central + via N1 + via S1:

  • Em um show, festa, comício, as pessoas se aglomeram no canteiro central
  • Em uma passeata, as pessoas se concentram em uma das pistas — ou em meia-pista, nos dias úteis
  • Para assistir a um desfile, as pessoas se aglomeram perto do meio-fio, dos 2 lados da pista — ou só de um lado, se houver bloqueio do outro

Além disso, a ocupação das vias N1 ou S1 costuma ser dinâmica. — A marcha pode começar no Ginásio Nilson Nelson (a 3 km) ou entre a Biblioteca Nacional e o Museu da República (junto à L2) — e é preciso verificar a extensão efetivamente ocupada, bem como a densidade em cada trecho, a cada momento.

Alameda dos Estados e gramado do Congresso Nacional

O Congresso Nacional tem certa “soberania” sobre seu gramado frontal, com uma extensão média de +/- 160 metros, da Alameda dos Estados até os espelhos d’água — e largura de 170 metros com inclinação suave, na parte central — ou 200 metros, incluindo as laterais mais íngremes e as faixas planas junto às vias N1 e S1.

Variações do gramado do Congresso Nacional

A área ocupada pode ser, portanto, de 27.000 m² — ou de até 32.000 m² — mas é improvável que uma multidão mantenha a densidade de 1 pessoa / m² nas laterais mais íngremes.

Das áreas próximas, só se aproveitam as beiradas, pois quem fica alguns passos atrás já não vê o que se passa nesse “anfiteatro”.

Praça dos Três Poderes

A Praça dos Três Poderes tem cerca de 30.000 m² — considerando as barreiras móveis que isolam o Supremo Tribunal Federal (STF), há alguns anos.

Descida da S1, da Esplanada para os Três Poderes, e barreiras do STF

Seria trabalhoso descontar pequenos espaços dentro da Praça — como a base do Museu Histórico, o acesso ao Espaço Lúcio Costa, o Centro de Turismo (antiga Casa de Chá) — e algumas estruturas eventuais, erguidas de ocasião.

Áreas verdes do Congresso junto à praça dos Três Poderes

Existem áreas próximas, como as palmeiras da Câmara, um gramado junto ao espelho d’água, e o bosque do Senado, que oferecem algum espaço — mas nem todas “aparecem na foto”, ou não oferecem boa visão da rampa e do Parlatório do Palácio do Planalto, por exemplo. — E nem sempre são permitidas.

Gramados junto à Praça dos Três Poderes

No cálculo acima, deixei de lado as palmeiras da Câmara (eventualmente ocupadas pelos Dragões da Independência), porque não são bom local para ver a rampa e o Parlatório do Palácio do Planalto. — A tendência é esta área de 6.700 m² ser ocupada em menos da metade, junto ao meio-fio — quando permitido.

Bloqueio na Praça dos Três Poderes diante do Palácio do Planalto, em 2003

Em alguns casos, barreiras temporárias isolam uma área considerável, junto à via N1, diante do Palácio do Planalto — como em Agosto 2003 — o que reduz a área ocupável para algo próximo a 25.000 m².

Para o cálculo dessas áreas parciais — números máximos:

Gramado do Congresso      160 m × 200 m  =   32.000 m²
Praça dos Três Poderes    140 m × 210 m  =   29.400 m²
Gramados junto à Praça                        6.700 m²

Outras áreas

Calçadão sombreado por árvores ao longo dos ministérios

Excluí do cálculo o gramado e o calçadão ao lado dos ministérios — única área mais sombreada, com grandes árvores — pois só são ocupados para assistir a algum desfile em uma das pistas (N1 ou S1).

Neste caso, a soma das multidões dos 2 lados dificilmente ultrapassa a que caberia na própria pista (20 metros de largura) — pois quem fica 10 metros atrás do meio-fio já não consegue ver quase nada.

Estacionamentos e Anexos dos ministérios, junto à via N2 (em nível inferior)

Também excluí do cálculo os estacionamentos “entre” os ministérios e “atrás“ deles, pois não têm significado em qualquer manifestação. — Quem fica ali, não vê, não é visto, não participa, não se manifesta. — Aliás, são áreas em geral ocupadas pela PM, como base de operações, agentes dos ministérios (e alguns seres misteriosos, como em 2017).

Esses estacionamentos “atrás“ dos ministérios ocupam o “teto” de suas garagens subterrâneas — servidas em nível inferior pelas vias N2 e S2.

Acessos à Esplanada

Limites do terrapleno da Esplanada e Praça dos Três Poderes

Todas essas áreas fazem parte de um terrapleno (aterro artificial), delimitado por quedas verticais de 3 a 8 metros em todo seu perímetro — com exceção da via L2, delimitada por rampas gramadas, bastante íngremes.

Desnível (muro) entre a Praça dos Três Poderes e o estacionamento inferior

A Praça dos Três Poderes fica em um terrapleno inferior ao da Esplanada — por isso, o desnível em relação ao “bosque da bandeira” é um muro de contenção do aterro, de “apenas” 3 metros de altura (1.058 m - 1.055 m altitude, segundo GoogleEarth Web). — Pode até parecer pouco, mas é melhor não pular.

E não se anime com a palavra “estacionamento”, pois nos grandes eventos todas as vias próximas são fechadas.

Limite vertical do terrapleno da Esplanada, atrás da Catedral (via S2)

O desnível é bem maior na Esplanada, propriamente dita: — 7 metros (1.981 m - 1.074 m) entre a Catedral e a via S2, que dá acesso às garagens e Anexos da Cúria Metropolitana, dos ministérios, Câmara, STF, PGR, TCU etc. do lado sul.

Escada para o desnível entre a Esplanada e a via N2, rebaixada

Em alguns locais, existem escadas para o desnível entre a Esplanada dos Ministérios e as vias inferiores N2 / S2 — mas não atenderiam a grandes multidões.

Em 2023, foram vedadas por tapumes, para não deixar dúvidas.

Rampa para automóveis entre a Esplanada e a via inferior S2

A maioria dos ministérios têm alguma rampa para veículos entre o terrapleno (Esplanada) e as vias rebaixadas N2 / S2 — algumas, privativas — e as outras, bloqueadas nos dias de grandes eventos.

Subida da via N1 para a Praça dos Três Poderes

Em dias comuns, pode-se chegar aos Três Poderes pela via N1, do Leste — mas em dias de grandes eventos esse trecho é bloqueado desde a Avenida das Nações — e não seria prático tentar a pé (se permitido), pois há pouco transporte público para se chegar à Orla do Lago (clubes, embaixadas, Vila Planalto).

Rampa gramada na passagem inferior da via L2

Só a Oeste, o terrapleno da Esplanada é limitado por uma rampa gramada, bastante íngreme (1.080 m - 1.075 m de altitude = 5 metros). — A rapaziada talvez ache bonito descer e subir por ali — mas não é prático para milhares de pessoas.

Restam, portanto, apenas 2 acessos à Esplanada dos Ministérios — os viadutos das vias N1 e S1 sobre a via L2 — a serem alcançados a pé, desde a Rodoviária (servida por linhas regulares de ônibus, Metrô, estacionamentos), em uma caminhada de mais de 700 metros.

Vir de outros setores próximos (Bancário, de Autarquias) implica em caminhadas maiores, com subidas e descidas — para chegar a esses mesmos 2 pontos.

Barreira e revista em bolsas e mochilas no viaduto N1 sobre a L2 em 2017

São os pontos naturais para revista no conteúdo de bolsas e mochilas — embora também possa haver outros bloqueios — próximos à Rodoviária, por exemplo.

Posse presidencial (I) - da Catedral ao Congresso

Público se fechando em torno do Rolls-Royce (O Globo, 2 Jan 2003)

Alguns vídeos com roteiro quase igual permitem uma comparação razoável das multidões nas posses de 2003, 2019 e 2023 — que qualquer um pode conferir, sem depender de “avaliações” com palavreado técnico-abstrato:

  • V1 (baixa resolução) - Vídeo de 3 horas 12 minutos da Rede Globo, cobrindo a 1º posse de Lula (2003), da Catedral até a passagem da faixa presidencial, no Parlatório do Palácio do Planalto. — Não inclui o show dos artistas (ao meio-dia), o discurso no Parlatório (no final da tarde), nem o desfile posterior no gramado da Esplanada.
    • V3 (baixa resolução) - Vídeo de 32 minutos do SBT, com a parte final da 1ª posse de Lula (2003) — do final do discurso no Parlatório até o desfile em zig-zag pelo gramado da Esplanada. — Começa por volta das 18:20 (Horário de Verão).
  • V2 - Vídeo de 2 horas 49 minutos da TV Senado, cobrindo a posse de Bolsonaro (2019), da Catedral até o Palácio do Planalto — inclusive passagem da faixa presidencial e discurso no Parlatório.
  • V4 - Vídeo de 11 horas 54 minutos do canal Lula no Youtube, cobrindo os eventos desde 12:40, quase 2 horas antes da chegada de Lula à Catedral, até 0:34 da madrugada — incluindo a aparição de Lula no Festival do Futuro, por volta das 23:00.
    • V5 - Vídeo de 9 horas 55 minutos da TV Senado, cobrindo desde a chegada de Lula e Alckmin à Catedral, até o discurso no Parlatório e a cerimônia interna no Planalto — com a hora de Brasília (BRT) sempre na tela, a partir das 12:30.

(As imagens são geradas por um pool de emissoras, e cada uma pode cortar / alternar entre várias câmeras, e adicionar câmeras próprias. — A diferença de resolução deve-se à transição da TV analógica para a TV digital, financiada pelo BNDES ao longo dos governos Lula e Dilma. — Horário de Verão em 2003 e 2019; horário “normal” em 2023).

2003

(V1: 5 min) - Público aglomerado próximo à Catedral, em 2003

O primeiro vídeo (V1, acima) começa com a multidão concentrada nas proximidades da Catedral — onde Lula entraria no Rolls Royce, para se deslocar até o Congresso Nacional — e ao longo da via S1, para acompanhar o trajeto.

A aglomeração não seguia nenhum desenho regular. Havia pessoas dos 2 lados da via S1, desde muito antes da Catedral. — No viaduto sobre a L2, a multidão invadia a pista dos 2 lados, por falta de espaço nas calçadas estreitas.

À medida em que o carro avança, a multidão se fecha em torno dele — obrigando à retirada dos Dragões da Independência — e chega a ocupar a via S1 por quase 1 km, atrás do Rolls-Royce.

(V1: 18 min)- Deslocamento da multidão com o Rolls Royce presidencial

Quando o Rolls Royce entrou na Alameda dos Estados, a maior parte da multidão já ocupava a via S1, ao longo do trajeto percorrido. — Outra aglomeração ocupava um triângulo do canteiro central nº 3, junto à Alameda — enquanto o gramado do Congresso ainda estava praticamente vazio.

2019

(V2: 4m ~ 4m 30s) - Pequeno público a 50 metros, atrás de tapumes e barreiras

As câmeras da TV Senado não registraram público perto da Catedral, para ver a partida do Rolls Royce com Bolsonaro.

O público só podia se mover pelo canteiro central, vedado por tapumes — e mesmo ali, foi mantido à distância da via S1.

Muitos optaram por olhar da Rodoviária (Foto: Bianca Marinho / TV Globo; sem a hora)

A imprensa registrou que “muitas pessoas” preferiram acompanhar o desfile de longe, do alto da Rodoviária — a 1 km da Catedral, ou a 2 km do Congresso — e sem nenhuma visão da Praça dos Três Poderes.

(V2: 6m 11s) - Aproximação à pista, só a partir do primeiro ministério

Só na altura do primeiro ministério, terminavam os tapumes e o público podia se aproximar da via S1 (mas não do meio-fio). — É a partir desse ponto que se vê alguma aglomeração — só do lado do gramado.

(V2: 6m 42s) - Aglomeração no retângulo nº 3

No restante da Esplanada, nota-se um início de aglomeração no canteiro nº 3 — que mais tarde será reforçada pelos que estiveram ao longo do percurso.

O cercadinho ao norte do gramado do Congresso ainda estava vazio. — Não tenho indicações de como foi a admissão dos que se movimentaram para lá em seguida, pois teriam de atravessar a Alameda dos Estados.

2023

(V4: 1h 51min) - Multidão na Esplanada, no desfile da Catedral ao Congresso

14:31 - Uma vista aérea do desfile em carro aberto entre a Catedral e o Congresso mostra a multidão nos canteiros centrais nº 4 (palco, ao fundo) — e nº 5 (Praça de Alimentação, fora da imagem), na 3ª posse de Lula.

Uma parte desse público se concentrava ao longo da via S1 — enquanto o restante se concentrava diante dos telões distribuídos dos dois lados centrais do gramado.

O canteiro nº 3 (atrás do palco) permaneceu bloqueado e vazio.

(V4: 1h 52min) - Banheiros químicos limitaram a visão do público

14:32 - Adiante, uma linha confusa de banheiros químicos quase não deixava espaço para o público — mantido pelas grades a uns 10 metros do meio-fio.

Quem estava mais atrás, não tinha visão do desfile, nem encontrava passagem. — Os mais empolgados subiam nos banheiros para poder ver.

Posse presidencial (II) - gramado do Congresso

2003

(V1: 22 min) - a multidão invade o gramado do Congresso

Em 2003, assim que o Rolls Royce chegou à Alameda dos Estados, em poucos minutos a multidão ocupou o gramado do Congresso Nacional.

(V1: 24 min) - pessoas se jogam na água

Pessoas jogam “presentes” para Lula. — Uma moça se joga no carro em movimento e consegue abraçá-lo. — Pessoas se jogam no espelho d’água para chegar mais perto. — A segurança mal sabia o que fazer.

(V1: 26 min) - a multidão ocupa o gramado frontal do Congresso

Pelo que se vê no vídeo, boa parte dessas pessoas acompanharam o desfile de Lula no Rolls Royce desde a Catedral — alguns, subindo nas poucas árvores ao longo do trajeto, para descer de novo em seguida — e muitas, correndo para chegar primeiro ao lugar seguinte do trajeto.

(V1: 2h 5m) - público no gramado do Congresso à espera da saída de Lula para o Planalto

Após 1 hora 30 minutos de permanência de Lula no Congresso Nacional, o público no gramado frontal estava “estabilizado” — com 3 ou 4 espaços vazios, inclusive um retângulo reservado aos canhões para a salva de tiros. — A concentração é maior junto ao espelho d’água, e ao longo das vias por onde o Rolls Royce deveria seguir para o Palácio do Planalto (do lado direito da imagem).

Os canteiros nº 3 a 5 da Esplanada estavam quase vazios, vendo-se ao fundo o palco montado junto à via L2 (próximo à Catedral) para o show dos artistas.

(V1: 2h 30m) - Seguranças empurram o Rolls Royce na saída da garagem do Senado

Quando Lula sai do Congresso, acontecem 2 coisas que confundem e dispersam a multidão: — O Rolls Royce toma um atalho imprevisto, sem dar tempo de a maior parte da multidão se deslocar para a Praça dos Três Poderes; — e mais tarde, Lula abandona o Parlatório do Palácio do Planalto por mais de 30 minutos, em um gesto de gentileza a Fernando Henrique Cardoso, enquanto o povo e os chefes de Estado esperavam sua volta para ouvir o discurso no Parlatório.

(V1: 2h 29) - Multidão ainda espera Lula na Alameda e na via N1

Pela contagem de tempo do Vídeo nº 1 (V1):

2h 27m - Enquanto passa a Esquadrilha da Fumaça (após a salva de 21 tiros da Artilharia), o Rolls Royce com Lula desce para a garagem do Senado e segue pela via N2 até a garagem do Planalto — em vez de subir para a Alameda dos Estados e descer pela via N1, onde era esperado pelo público.

2h 28m - Alexandre Garcia se dá conta da mudança de trajeto e começa a especular sobre o atalho que “provavelmente” seria utilizado.

2h 29m - A maior parte do público presente no gramado do Congresso, na Alameda e na via N1 ainda não se moveu.

(V1: 2h 31m) - Multidão do lado sul do Congresso desce para os Três Poderes

2h 31m - Grande número de pessoas que estavam na via S1 — portanto, fora do percurso previsto — se adiantam e descem para a Praça dos Três Poderes.

2h 33m - Lula chega ao Palácio do Planalto.

2h 38m - Lula já recebeu a faixa presidencial de Fernando Henrique. — Muitas pessoas ainda estavam a caminho da Praça dos Três Poderes (pela S1). — Não há imagens de quando a maior parte das pessoas no gramado do Congresso se deram conta da mudança e começaram a se mover (ou não) pela via N1.

2h 42m - Lula desce do Parlatório para acompanhar Fernando Henrique Cardoso até uma saída discreta (não pela rampa) — e, durante os 30 minutos finais do vídeo, não volta para falar ao povo que estava na Praça.

2019

Apenas canhões no gramado do Congresso, na posse de Bolsonaro

Na posse de Bolsonaro, o gramado do Congresso permaneceu quase inteiramente bloqueado — ocupado pelos canhões para a salva de tiros. — O público permaneceu confinado em 2 retângulos pequenos (ver abaixo); e além da Alameda dos Estados (canteiro nº 3 e via N1).

(V2: 1h 50m) - Câmera do alto dá uma visão ampla do público diante do Congresso

Finalmente, uma câmera do alto do Anexo I do Senado oferece uma visão ampla do público, contido para lá da Alameda dos Estados — ocupando menos da metade do canteiro nº 3 e um curto trecho da via N1.

(V2: 2h 5m) - Um close do cercadinho norte, visto do alto

Outra imagem do alto, em zoom, permite calcular a área do cercadinho em 80 m × 30 m = 2.400 m² — mas se a densidade fosse de 1 pessoa / m², não seria possível ver tanta grama entre as pessoas.

Não há público em nenhum dos lados da via N1 — da Alameda dos Estados até a esquina da Praça dos Três Poderes. — Nenhum deslocamento de público entre o Congresso Nacional e a Praça dos Três Poderes: eram públicos estanques.

2023

(V4: 1h 56 min) - Repetiu-se o esquema dos cercadinhos

14:36 - Em 2023, com o canteiro nº 3 bloqueado e a repetição dos 2 cercadinhos nas pontas da Alameda dos Estados, não houve correria, nem invasão do gramado frontal do Congresso.

Por sinal, o público não se empolgou muito em ficar confinado — sabia-se lá durante quantas horas — e os cercadinhos tiveram baixa demanda.

Mais tarde, o cercadinho sul (acima) se esvaziou. — Seu público se juntou ao do cercadinho norte (com a bandeira LGBTQIA+), para ver a saída rumo ao Planalto.

(V4: 2h 3min) - Gramado do Congresso vazio: o público assistiu para lá do palco

14:43 - O pequena abertura angular da imagem de Lula e Alckmin chegando ao Congresso não permite ver esses 2 cercadinhos nas extremidades do gramado — e não havia canhões, pois foi dispensada a tradicional salva de tiros na saída.

O público permaneceu para lá do palco — nos canteiros nº 4 e 5.

(V4: 3h 35min) - Público na Esplanada depois da posse no Congresso

16:15 - Terminada a cerimônia de posse no Congresso Nacional, Lula e Alckmin reúnem-se em privado com os presidentes da Câmara e do Senado — e o Festival do Futuro é retomado, com mais uma série de apresentações.

A imagem aérea (acima) registra o público presente diante do palco — no canteiro nº 4 (à direita, embaixo) — e na praça de alimentação do Festival Gastronômico, no canteiro nº 5 (no alto, à esquerda).

(V4: 3h 43min) - Aglomeração na via N1, no alto, à direita

16:23 - No detalhe (acima), uma parte do público já se aglomera na barreira da via N1 (no alto, à direita) para aguardar a passagem do Rolls-Royce com Lula, rumo ao Palácio do Planalto.

O alinhamento do palco com o “bloco U” (agora: Turismo, e Minas e Energia) permite verificar que deixava ao público 288 metros do canteiro nº 4 — e menos de 200 metros de largura, devido às barreiras afastadas do meio-fio.

(V5) - Público entre a Praça de Alimentação (à esq.) e o Festival do Futuro

16:22 - Nesse detalhe (acima), o restante do público entre o Festival do Futuro (canteiro nº 4, à direita) e a Praça de Alimentação (canteiro nº 5, à esquerda).

Posse presidencial (III) - Praça dos Três Poderes

2003

Praça dos Três Poderes na posse de Lula em 1º Janeiro 2003

Na foto de Lula e José Alencar subindo a rampa do Palácio do Planalto (acima), pode-se ver um público enorme, até mais ao fundo — mas a pequena abertura angular (zoom?) oculta a largura, muito maior, da Praça dos Três Poderes.

Esse ângulo baixo, pouco acima da horizontal, contribui para “adensar” a multidão ao fundo, criando uma impressão grandiosa — o que é ótimo para empolgar a galera — mas ruim para uma avaliação objetiva.

(V1: 2h 17m) - Multidão na Praça (esq.) e nos gramados do Senado e da Câmara (dir.)

Há muitas indicações de que a Praça não estava tão lotada quanto parece. — Parte do público se espalhava pelos gramados da Câmara e do Senado (à direita) — mas a maior parte dos que estavam no gramado frontal do Congresso não teve tempo para descer, nos escassos 5 ou 6 minutos do atalho tomado pelo Rolls Royce.

(V1: 2h 28m) - Densidade da multidão na Praça, quando Lula saía do Congresso

Acima - Densidade da multidão na Praça dos Três Poderes, no momento em que o Rolls-Royce entrava pela garagem do Senado para chegar mais rápido ao Planalto.

(V1: 2h 38m) - Densidade do público na Praça, na passagem da faixa presidencial

Acima: - Por poucos segundos, a TV Globo exibiu imagens tomadas do alto, quando Lula se preparava para receber a faixa presidencial de Fernando Henrique. — Há uma concentração razoável de pessoas “nas primeiras filas” da Praça dos Três Poderes, mas não tanto, logo atrás. — Imagem analógica, com borrões.

(V1: 2h 55min) - Helicóptero ao vivo, ou VT feito mais cedo?

Bem mais tarde, Alexandre Garcia anuncia: “Agora, imagens de helicóptero” — mas não diz se eram ao vivo, ou VT feito mais cedo. — O sol já ia baixo, e não sei se as pessoas ainda precisavam entrar no espelho d’água, para aliviar o calor.

De qualquer modo, 12 minutos depois de Lula e FHC saírem do Parlatório, seria natural o público se dispersar — mas permanece a dúvida, se esta imagem não seria um video-tape (VT) de 1 ou 2 horas antes, como era comum na TV da época.

Além disso, não se vêem pessoas descendo para os Três Poderes pela via S1.

(V1: 2:59) - Pessoas ainda descendo a via S1, da Esplanada para os Três Poderes

Apenas 4 minutos depois, de volta às câmeras ao vivo — zoom, possivelmente desde o Anexo IV da Câmara dos Deputados, a 600 metros do Planalto — podem-se ver muitas pessoas ainda descendo da Esplanada para a Praça dos Três Poderes, pela via S1 — e uma distribuição do público, na praça, bem diferente do que sugerem as imagens de helicóptero.

Infelizmente, com tão poucas imagens ainda na web, após 20 anos — e de tão baixa resolução — tudo é mais difícil.

E, como diz o novo ditado: — “Ainda não se usavam drones, como atualmente”.

(V3: 0 min) - Público na Praça dos Três Poderes ao final do discurso de Lula

É preciso relacionar o “tempo” de cada vídeo com o horário real. — O vídeo do SBT faz isso — mas começa bem depois do final do vídeo da Globo.

Aos 10 minutos do vídeo (V3: 10 min), quando Lula partia do Palácio no Rolls Royce para o desfile em zig-zag pelo canteiro central da Esplanada, Hermano Henning informa que eram 18:30 (Horário de verão).

Acima: - Público nas primeiras filas da Praça dos Três Poderes, no momento em que Lula termina seu discurso no Parlatório, cerca de 18:20.

2019

Praça dos Três Poderes na posse de Bolsonaro, 1º Janeiro 2019

A foto do Poder360 (acima), com maior abertura angular (e boa luz solar), oferece 2 informações ausentes na foto “equivalente” da 1ª posse de Lula: — (a) Visão bem mais larga das primeiras fileiras de pessoas perto do meio-fio; e (b) A visão de grande espaço vazio ao fundo, em especial à esquerda.

(V2: 1h 5m ~ 2h 40m) Público sem alteração na Praça dos Três Poderes

O público presente à Praça dos Três Poderes para a posse de Bolsonaro permaneceu praticamente inalterado por mais de 1 hora 30 minutos. — Mais uma vez, nenhuma imagem mostra pessoas se deslocando.

Do lado esquerdo, o público ocupa cerca de 80 metros, da via N1 até pouco atrás da estátua dos Dois Candangos, e pouco antes do início da antiga Casa de Chá.

(V2: 1h 5m) - Público nos Três Poderes para a posse de Bolsonaro

Do lado direito, o público ocupa cerca de 130 metros, até o Museu Histórico.

A média é de 105 metros desde a via N1 — e a frente ficou limitada a 125 metros — o que dá uma área ocupada de cerca de 13.000 m².

Nenhum público nos gramados do Senado e da Câmara ou nas vias adjacentes — e nenhuma movimentação de público da Esplanada para os Três Poderes.

Público na Praça dos Três Poderes cerca das 17:00 (Horário de Verão)

Uma foto de Adriano Machado (Reuters), publicada às 17:52 (Horário de Verão), pelo G1 Globo, resume todas essas observações. — A sombra bem nítida do Anexo I do Senado permite calcular que foi feita perto das 17:00 (Horário de Verão).

Nenhum público na nesga de Praça do lado de lá da via proveniente do STF.

2023

Público nos Três Poderes, após Lula receber a faixa das mãos de populares

Mais uma vez, o ângulo baixo, quase horizontal, reforça a grandiosidade do público na Praça dos Três Poderes, no momento em que Lula já recebeu a faixa das mãos de pessoas representativas do povo brasileiro.

Público nos Três Poderes durante o discurso no Parlatório

Dessa vez, temos imagens suficientes para avaliar o público presente à Praça dos Três Poderes, do começo ao fim da tarde — e salta aos olhos que a segurança não deixou entrar 40 mil pessoas.

Na avaliação do site Poder360, haveria cerca de 24 mil a 32 mil pessoas.

Posse presidencial (IV) - gramado da Esplanada

2003

(V3: 12 min) - Multidão sobe a N1 com Lula para o desfile na Esplanada

É mais difícil avaliar o público em torno de Lula, a partir do momento em que o Rolls Royce sobe a via N1, do Planalto para a Esplanada — onde desfila em zig-zag pelo canteiro central, até a Catedral de Brasília. — As áreas ocupadas são irregulares; e quanto mais se afasta do Anexo I do Senado, mais baixo é o ângulo da câmera.

Acima: - O público da Praça dos Três Poderes e dos gramados próximos acompanha o Rolls Royce, ocupando as laterais da via N1 — e a própria via, atrás do carro.

(V3: 16 min) - Início do desfile em zig-zag no gramado da Esplanada

O público se desloca o tempo todo, à medida em que o Rolls Royce faz seu zig-zag pelo canteiro central da Esplanada — e não existe “geometria” que facilite uma avaliação do número de pessoas — correndo em todas as direções.

(V3: 20 min) - Aglomerações na Esplanada e no espaço desde a Rodoviária

Além das aglomerações ao longo do zig-zag — e das pessoas que se deslocam o tempo todo, para chegar ao trecho seguinte...

Havia uma aglomeração de barracas no canteiro nº 7, para lá da via L2 — onde a revisão da Folha / Defesa Civil DF detectou um público maior do que no centro do gramado frontal do Congresso, durante a posse perante o Parlamento.

(V3: 28 min) - Público ainda voltando dos Três Poderes para a Esplanada

A câmera do alto do Anexo I do Senado mostra que, quando Lula chegou de novo à Catedral, muitas pessoas ainda voltavam da Praça dos Três Poderes para a Esplanada, pelas vias N1 e S1.

2023

(V4: 10h 30min) - Lula no palco do Festival do Futuro

23:10 - É difícil avaliar o público presente no Festival do Futuro no final da noite, quando Lula, Janja, Alckmin e Lu subiram ao palco — após o jantar oferecido no Itamaraty aos chefes de Estado e delegações estrangeiras — pois os drones já tinham ido dormir.

(V4: 8h 43min) - Última panorâmica por drone, às 21:23

21:23 - A última panorâmica por drone no público do Festival do Futuro foi quase 2 horas antes — e mostrava aglomeração até o 3º par de torres (pelo menos), com menor densidade nas laterais — mas naquele momento ficou no escuro o restante do espaço até a Praça de Alimentação, mais ao fundo.

(V4: 8h 54min) - Praça de Alimentação por volta das 21:34

21:34 - A última panorâmica por drone ainda mostrava movimento bastante razoável na Praça de Alimentação — considerando que não foi possível lotar um espaço tão amplo em nenhum momento ao longo da tarde — e pode-se perceber alguma presença de público na área sem iluminação que a separa do Festival, propriamente dito.

(V4: 11h 32min) - Público no Festival do Futuro às

0:12 - Numa das últimas tomadas do público com iluminação geral, não é possível perceber qualquer nova redução do número de pessoas — mas o ângulo baixo e a falta de foco na base do 3º par de torres não permitem afirmar nada.

É óbvio que era um público menor do que à tarde — se mais não fosse, porque muitas caravanas deviam retornar a suas cidades às 22:00, saindo do Ginásio de Esportes, a 3 km da Esplanada — e por isso, seus participantes não poderiam permanecer no Festival após o anoitecer.

Mas qualquer afirmação de que diminuiu muito — ou de que diminuiu pouco — não encontra embasamento nesse conjunto de imagens.

A guerra dos números (I)

Público estimado pela PM-DF em 2003, na Época e no Estadão

Apenas 3 semanas depois da 1ª posse de Lula, a Folha de S. Paulo questionou os números divulgados por toda a “grande mídia” — inclusive ela mesma — quanto ao público presente ao evento.

Começou por resumir — com falhas — o que se havia publicado:

A Folha afirmou haver cerca de 150 mil pessoas, com base em informações da Polícia Militar. A PM foi alterando suas estimativas ao longo do dia. Logo após o almoço, falava em 70 mil. No final da tarde, chegou aos 150 mil.

"O Globo" registrou na sua primeira página a presença de 200 mil pessoas, segundo "os organizadores". Nas páginas internas, atribuía aos organizadores a estimativa de 150 mil a 200 mil, e, segundo a PM, 70 mil — sem especificar o horário em que esse número da polícia havia sido coletado. (...)

(Acima - Na verdade, tanto a revista Época quanto o Estadão atribuíram à PM-DF a estimativa de “cerca de 200 mil” pessoas).

Para “arbitrar”, a Folha de S. Paulo resolveu submeter à Defesa Civil do DF “fotos aéreas da Esplanada” nos “horários de maior concentração de público” — às 15:30, “quando Lula saiu da Câmara” (V1: 2:20 ~ 2:27) — e às 18:15, quando Lula falava do Parlatório (minutos antes de V3: 0:00).

PDF da página do jornal impresso

Os técnicos da Defesa Civil calcularam a “área ocupada” na “Esplanada”, às 15:30, em nada menos que 296.521 m² — desde o canteiro nº 8, quase na Rodoviária, até o gramado do Congresso (incluídos) — pegando grupos dispersos por toda parte, os maiores dos quais, um de 7.208 pessoas no centro do gramado do Congresso (junto ao espelho d’água) e outro de 12.000 pessoas no canteiro nº 7, perto da Catedral.

Já para a Praça dos Três Poderes, calcularam 13.468 pessoas em uma área total de 32.835 m², às 18:15 — mas avaliaram que, às 15:30, havia apenas 60% disso — daí, a conta de 8.080 pessoas (60% de 13.468), para compatibilizar os horários.

Infelizmente, a Folha não lembrou de fazer o mesmo, no tocante a essa questão na posse de Bolsonaro — o que invalida comparações.

Vale notar que essa conta tenta ser um “instantâneo” — um momento único, fixo, congelado — enquanto, em São Paulo, o DataFolha considera “público total” = a soma de todos os que “passaram” por uma área “ao longo da tarde”, ou “ao longo do dia”, chegando com facilidade a cifras de 1 milhão de pessoas, em áreas bem menores, e muito mais difíceis de verificar.

Enfim, em São Paulo o DataFolha rejeita terminantemente o uso de fotos aéreas — única base dessa “revisão” da posse de Lula em Brasília, 2003.

A guerra dos números (II)

Blogs noticiam a maior posse do universo, em 2019

Às 19:05 (Horário de Verão) do dia 1º Jan. 2019, a Gazeta do Povo já tinha o número de “115 mil pessoas” na posse de Bolsonaro — e que seria maior do que a soma dos públicos nas posses de Lula e Dima. — No mesmo dia, o blog “Agência Caneta” elevou a posse de Bolsonaro à categoria de “a maior da história”.

Foto de Nelson Almeida, usada pela Gazeta do Povo e pelo UOL

Só quase 1 horas mais tarde, às 19:55 (*), o portal UOL publicou o mesmo número de “115 mil pessoas” — mas frisando que isto não superava o público presente à posse de Lula em 2003.

  • (*) O horário da publicação da Gazeta do Povo é “relativo” (UTC - fuso horário atual) — ao passo que o horário da publicação do UOL permanece “fixo”. — Ver “Ferramentas”, adiante.

Tanto a Gazeta do Povo quanto o UOL utilizaram a mesma foto, de Nelson Almeida (AFP), em zoom, fechado no único ponto de maior aglomeração, ao norte da Alameda dos Estados (ver V2: 2h 5m).

Durante 3 dias, a torcida pôde compartilhar à vontade a versão que melhor lhe conviesse — até que, no dia 4 Jan. 2019, a “plataforma jornalística Aos Fatos” tentou botar alguma ordem na bagunça, observando o óbvio: — Não é possível comparar números de 3 fontes diferentes, que utilizaram 3 “metodologias” totalmente diferentes:

  • Os números de 70 mil, 150 mil e 200 mil pessoas na posse de Lula em 2003 foram dados, em diferentes horários, pela PM-DF — sempre utilizada como fonte, pela mídia, para eventos em Brasília.
  • O número de 71 mil pessoas na posse de Lula em 2003 foi dado, semanas depois, por uma análise de fotos aéreas, encomendada pela Folha de S. Paulo à Defesa Civil do DF — que não esteve lá para isso, no dia; e que nunca mais foi chamada a tratar disso, antes ou depois.
  • O número de “115 mil pessoas” na posse de Bolsonaro em 2019 foi dado pelo GSI — o gabinete de segurança da Presidência, já sob comando de aliados políticos de Bolsonaro. — Nesse dia, pela primeira vez em décadas, a PM-DF não divulgou avaliação do número de pessoas presentes.

Não deixa de ser gentileza, atribuir uma “metodologia” ao GSI — que deu explicações vagas e confusas. — Nem “Aos Fatos”, nem a Folha, criticaram ou “revisaram” esse número (que eu saiba).

Por tudo que se vê nos vídeos de 2003 e 2019, a 1ª posse de Lula reuniu um público pelo menos 4 vezes maior, na Esplanada — independente de quaisquer “números” indicados por fontes diferentes, com “metodologias” diferentes.

Quanto à multidão nos Três Poderes, é mais difícil comparar, pois em 2003 o público se espalhava por toda a praça e adjacências (além de receber reforço), enquanto em 2019 o público ali ficou parado, concentrado, “bem comportado”. — Além disso, grandes portais mudaram seus links ao longo desses 20 anos, eliminando ou dificultando encontrar fotos de 2003, com as horas exatas — e os vídeos que encontrei são de baixa resolução.

O tempo não para

Tropas do Exército na via N2, em Maio 2017: início da militarização

Não houve barreiras nem revista (que eu me lembre, ou encontre na web), na 1ª posse de Lula, em 2003. — Cheguei muito cedo, e não guardo lembrança de qualquer obstáculo — nem de precisar estacionar longe, ou andar muito.

Também não houve obstáculos à chamada “Marcha dos 100 mil” (ruralistas), em 1999 — nem às sucessivas manifestações contra a Reforma da Previdência de 2003, no 1º governo Lula.

Isto só começou em 2016, para evitar atritos entre manifestantes pró × contra o Impeachment — e se exacerbou a partir da reação militarista do governo Temer às manifestações contra ele — em especial a partir da G.L.O. de 2017.

Tornou-se prática permanente durante o governo Bolsonaro — e se impôs à 3ª posse de Lula em 2023 — até por insegurança quanto ao comportamento da própria “segurança” herdada do período Bolsonaro.

Referências

Vídeos

Ferramentas

Camadas guardadas no GE Desktop

GE Desktop - Costumo usar o GoogleEarth “Desktop” (aplicativo para PC), mas de alguns anos para cá, ele vem perdendo funcionalidades. — Agora, a “altitude” (acima do nível do mar), indicada como “elev” (elevação) no canto inferior à direita, é sempre “zero” — e no Google Maps, também.

Em todo caso, é muito prático poder salvar inúmeros lugares, medidas e contornos em uma pasta “Esplanada” — para ter sempre à mão algumas distâncias, como a dos postes, por exemplo (21,4 metros ou seus múltiplos) — e a opção de ocultar ou exibir cada camada, com um clique, daí por diante.

Imagem dos Três Poderes em Janeiro 2019 no GE Desktop

Também é muito prático poder escolher entre sucessivas “imagens históricas” de cada local. — Imagens de “21 Janeiro 2019” tendem a ser mais fieis à realidade do terreno no início daquele mês.

Distância e elevação (altitude) do asfalto, no GE Web

GE Web - Para verificar as elevações do terreno e do teto dos prédios, tive de recorrer ao GoogleEarth “Web” (navegador) — que também é mais prático para medir distâncias e áreas — mas ainda não descobri como salvá-las, para não ter de fazer tudo de novo, caso precise outra vez.

Aliás, essas medidas aparecem em um retângulo preto, inamovível, que atrapalha a produção das imagens. — Ao fechá-lo, as medidas desaparecem.

Quanto à data das imagens, esqueça. — A única certeza é que todas foram feitas após 1º Jan. 1970: o início da “era do Unix”. — Parece que os desenvolvedores do GE Web não querem lidar com isso, no momento.

Elevação do Anexo I do Senado, no GE Web

Com isso, foi fácil medir a extensão da sombra do Anexo I do Senado, na foto de Adriano Machado (Reuters) — e a altura relativa do topo do prédio até o asfalto (1.152 - 1.059 = cerca de 93 metros) — para determinar o ângulo de elevação do sol naquele momento (cerca de 36º).

Aproveitei o recurso “medir área” para desenhar um triângulo — legendado mais tarde, no Gimp — para ilustrar o cálculo do ângulo de elevação do sol.

Hora aproximada da foto (Horário de Verão), pelo KStars

KStars - Recuando até 1º Jan. 2019 no KStars, pode-se verificar que a elevação do sol a 36º ocorreu perto das 17:00 (Horário de Verão) — cerca de 52 minutos antes da publicação feita pelo portal G1 Globo, às 17:52 (Horário de Verão).

São números aproximados, pois o GoogleEarth não favorece maior exatidão.

Portanto, mesmo sem os dados Exif da imagem, pode-se saber que a foto não é de 2 ou 3 horas antes — e de qualquer modo, o público na Praça dos Três Poderes não se alterou desde várias horas antes.

Diferenças de “hora de publicação” entre 2019 e 2022

Horário de Verão - Em Janeiro de 2003 e 2019 vigorava o Horário de Verão (UTC-0200) — que foi extinto apenas em Abril 2019.

Isto vale para os horários da programação oficial, para as horas faladas durante os vídeos — mas não, necessariamente, para as páginas na internet.

O software gerenciador de conteúdo (CMS) do G1 Globo (acima) guardou a hora de publicação pelo “tempo universal” (UTC) — ISSUED: "2019-01-01T19:52:44.187Z" — mas exibe no fuso horário atual (e local) do internauta.

Em 2019, G1 Globo (acima) exibia “17:52” — e hoje exibe “16:52”. — A indicação original ainda pode ser vista nas capturas do Wayback Machine feitas na época.

A mesma coisa acontece com o CMS Wordpress utilizado pela Gazeta do Povo, que exibia “19:05” na época; e hoje exibe “18:05” — mas a publicação do UOL exibe até hoje a mesma hora “19:55” que exibia na época.

Luz difusa - Infelizmente, nessa época do ano, em Brasília, é muito comum o céu encoberto (alternando sol, mormaço, chuvas ocasionais) — dando lugar a uma luminosidade difusa, sem sombras definidas. — Por isso, boa parte das fotos não permite determinar a hora em que foram feitas.

Cópias de referência - Imprimi em PDF as notícias da época, para guardar — e salvei no Wayback Machine (Internet Archive), para prevenir eventuais sumiços ou alterações (de Novembro para Dezembro 2022, por exemplo, a matéria da revista Época, passou a ficar sob paywall do portal G1 Globo). Estes são os links indicados nas Referências. — As fotos foram baixadas em separado.

Pelos mesmos motivos, baixei os vídeos pelo yt-dlp (Youtube Download Plus).

Tratamento de imagens - Tratei a maior parte das imagens no Gimp, apenas para redução automática de infravermelho / ultra-violeta (Colours > Auto > White balance) — mas em alguns casos isso “esverdeava” a captura de vídeo, e me limitei a aumentar manualmente o brilho e o contraste (Colours > Brightness-Contrast).

Sincronização dos vídeos da TV Senado (V5) e da TV Lula (V4)

Sincronização - Às 14:29 de 1º Jan 2023, o vídeo da TV Senado registra o início do desfile do Rolls-Royce, em frente à Catedral de Brasília — o que, no vídeo da “TV Lula”, corresponde a (V4: 1h 48min). — Como o vídeo da TV Senado começou às 10:00, calculei o início do vídeo da TV Lula às 12:40.

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Publicado em 5 Nov. 2022; e desenvolvido até 28 Dez. 2022.
Reformulado em 15 Mar. 2023, para incluir a 3ª posse de Lula.

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